1 de fevereiro de 2010

cliché



Eu que me comovo por tudo e por nada resisto mal ao que de cinematográfico tem um jogo de rugby num estádio cheio.
Resisto mal ao aperto de mão depois de uma placagem e à multidão atrás de um autocarro, como à lágrima nos óculos escuros e ao abraço à empregada lá de casa.
Resisto mal ao pontapé certeiro e ao árbitro que espera que o relógio avance, como ao bar democratizado e ao polícia branco que festeja com o miúdo preto.
Resisto mal às eliminatórias de um campeonato e ao esforço físico dos atletas, como à determinação dos homens quando têm de correr riscos.
Resisto mal às bancadas em coro e às bandeiras levantadas, como a um poema que nos inspira e nos faz aguentar.
Resisto mal à câmara lenta e ao flashback para os dias da prisão.
Eu que me comovo por tudo e por nada dou por mim a pensar que, com actores empenhados e atentos à contra-cena, a nossa vida dava um belo filme.

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