5 de janeiro de 2014

cheiro

Combinámos que não íamos dizê-lo e não to direi.
Escrevo-o apenas, neste sítio meio escondido, porque o teu cheiro ainda nos enche a casa e isso me consola e aperta o coração ao mesmo tempo.
O que mais custa – o que mais me custava, dir-te-ei quando pudermos falar disto sem saudades à flor da pele – são aqueles fins-de-tarde em que te deixo na estação. Nem o hábito nem a consciência de que é assim evitam a tristeza que ainda sinto de cada vez que te vais embora. Depois aprendo a geri-la, claro, e vou canalizando o afecto e os abraços em sms. Acho que, inconscientemente, faço até por me esquecer de como é bom estarmos mesmo juntos e poder tocar-te, olhar-te, sentir o teu cheiro. Aprendo a não pensar como é vazia e fria e estranha a casa que fizemos juntos quando não estás por cá e a concentrar-me noutras coisas.
Mas de vez em quando tu voltas e – abençoada! – atiras tudo por terra. Num instante deito fora o que aprendi a construir e volto, sem querer, a pensar como são melhores os dias que começam com um beijo em ti e terminam com um abraço a sério.

Daqui a nada a casa já não vai cheirar a ti e a coisa vai ficar mais fácil. Mas hoje e amanhã, sei-o bem, é na tua almofada que vou dormir.