25 de março de 2008

inocência

O algarve o pingo irritante de um autoclismo avariado numa casa de banho acanhada de um apartamento empenado com vista para a relva seca do mini-golf abandonado onde dois pinheiros mansos, ao jeito de palmeiras exóticas, quase cobrem o inocente mar azul.

O algarve um restaurante apinhado de gente nervosa logo pela manhã fingindo-se feliz pelo ovo estrelado com vista para as espreguiçadeiras enquanto se esquece da fila na auto-estrada e do cheque para a agência e da hipoteca da casa e já quase nem repara que lá em baixo o inocente mar azul.

O algarve um hotel decadente a dizer excuse me para se armar em fino, oferecendo-nos uma praia roubada e promessas de requinte, a despeito do tecto falso meio pendurado, da tijoleira gasta, do piso escorregadio, da arrogância da gerente, das máquinas de flippers e do snooker de moedas, de onde já nem se vê o inocente mar azul.

O algarve uma sucessão de rotundas decoradas e esplanadas mal dispostas e carros sobrepostos e anúncios luminosos prendas gifts happy hours larger beer e bolas de praia porque lá em baixo o inocente mar azul.

O algarve um país que é praia - alcatrão, cafés, areia e o inocente mar azul.

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