9 de junho de 2010

desejo

Creio que é bem mais do poder amar do que do ser amado que provém a felicidade.
É também só isso que podemos esperar de quem gostamos: que nos deixe gostar de si, que ouça sem desdém as mais belas palavras que conseguimos dizer-lhe, que ocasionalmente aceite o nosso abraço e nos devolva um sorriso. Que nos não culpe pelo sentimento involuntário e inexplicável que em nós cresceu e nos permita, enfim, ser felizes nesse amor que lhe dedicamos.
Se, por acaso ou vontade divina, encontramos alguém cujo sentimento é recíproco, a vida afigura-se-nos perfeita. Mas talvez não seja por sermos amados. Talvez seja apenas porque, ao naturalmente deixarmos que a outra pessoa demonstre o que sente por nós, a fazemos feliz. E isso é tudo o que queremos para aqueles de quem realmente gostamos.
O raciocínio é lógico: está para além da nossa vontade conseguir que alguém nos ame. Não vale por isso a pena esperá-lo ou desejá-lo. Quando acontece é bom - e que flua!; quando não acontece é pena - mas paciência.
É por isto que a saudade dói. Porque, na ausência física de alguém que amamos, ficamos condenados a falar para as paredes ou a figurar olhares em notações sintácticas. E porque a voz invisível ou as palavras mudas que nos chegam do outro lado são sempre insuficientes para nos garantir que continuamos a ser deixados amar.
Mas é também por isto que o ciúme é estúpido. Paradoxalmente, ele diz muito mais acerca dos nossos sentimentos do que dos supostos sentimentos da outra pessoa em relação a nós. Só se tem ciúmes de quem já não se gosta ou de quem, afinal, nunca se gostou. Tal como não adianta desejar que alguém nos ame, também não faz qualquer sentido lamentar que quem um dia nos amou tenha deixado de o fazer. E se, nestas circunstâncias, essa pessoa for hoje mais feliz, o nosso amor por ela (e a felicidade que dele nos vem) só podem sair reforçados.
O desejo é outra coisa.

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