5 de fevereiro de 2007

desonestidade

Kurt Halsey Frederiksen, Honesty honestly


Um deputado da nação acusou o meu amigo de desonestidade intelectual.
Fê-lo num daqueles debates de província nos quais gosta de participar ao fim-de-semana, exibindo a retórica que se aprende e exercita na capital civilizada. Fê-lo com o ar grave e sério de quem condescende em sentar-se na mesma mesa com seres visivelmente inferiores mas de quem não tolera abusos, libertinagens ou quaisquer faltas de respeito à sua imperiosa posição.
Pouco habituado ao convívio tão próximo com as artes da deputice, fiquei, confesso, embaraçado. Então o meu amigo, que eu até admirava, era, afinal, um "desonesto-intelectual"? Ou seria um "intelecto-desonesto"?
Se fosse só desonesto, a coisa não me afligiria muito. O que me intrigou foi que o acusassem de o ser do ponto de vista intelectual. Pus-me a pensar nos outros tipos de desonestidade. Se, por exemplo, eu me levantasse da cadeira e, fingindo que ia cumprimentar o senhor deputado, lhe desse um murro nos queixos, seria, concerteza, um caso exemplar de "desonestidade física". Se, por outro lado, o senhor deputado pudesse imaginar o que penso dele enquanto o fito e finjo escutar com este notável ar sereno, estou certo que me acusaria de "desonestidade psicológica". Se, cansado da sua oratória, abandonasse a sala para ir à casa de banho, estaria a praticar uma vergonhosa "desonestidade fisológica". E estas voltas no estômago ao ouvi-lo? Serão os primeiros sintomas de uma "desonestidade gástrica"?
Pois que sejam. Naquela acusação, o que contava mesmo era o termo intelectual. Na cabeça do senhor deputado, era aí que se estabelecia a diferença entre ele e o meu amigo.
O meu amigo, desmentindo a acusação de desonestidade, resistiu a responder-lhe na mesma moeda. Na verdade, nunca ninguém poderá afirmar, honestamente, que aquele deputado é um intelectual.

1 comentário:

Anónimo disse...

Um abraço muito amigo. Honestamente.