28 de novembro de 2006

xix

- Quanto é?
Só para passar o tempo, porque para quê os queijinhos da serra comprados aqui no meio dos neons, para quê as garrafas de vinho empacotadinhas numa caravela em contraplacado gravado a fogo, para quê o galo de barcelos a embrulhar os ovos moles de Aveiro, as cavacas das Caldas, o chouriço alentejano, as rendas de bilros, para quê.
Só o jornal e um maço de tabaco, a inércia, o automatismo, quase como no quiosque todas as manhãs, eu a atravessar a rua e a dona isilda ou às vezes o senhor joão, menos agora desde que foi operado, portanto quase sempre a dona isilda, sorridente, a tirar-me o jornal de debaixo dos outros e a estender-me o tabaco de tal maneira que eu às vezes quero outro mas não tenho coragem e só
- Bom dia como está muito obrigado
de vez em quando uma observação climatérica, uma pergunta pelo marido ou
- e os filhos estão bem
às quais me retribui sempre, sorrindo, apesar da coluna, da operação do marido, do pai entrevado, no neto sem pai, e desejando-me
- Bom dia, Sr. Rodrigo.
Um pouco automática, é certo, mas seguramente menos metalizada do que a outra
- Gostei muito de o servir
e apesar de tudo mais sincera do que esta agora
- Muito obrigado, senhor. E boa viagem.

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