3 de novembro de 2006

c)

Lembro-me todos os dias, a cada manhã que começo, a estranhar ainda o ter que aquecer o café com leite, o comer sozinho, o fechar a porta sem ter a quem
- Até logo.
o não ter que explicar o atraso para o jantar, o não ter quem me ouça as diatribes do patrão, o não ter a quem pedir o frasquinho do sal, a jarra da água, o não ter com quem disputar a lavagem da louça, a limpeza do pó, o pagamento das contas.
Lembro-me todos os dias e a todas as horas, quando toca o telefone, uma campainha no peito que me aperta e me sustém a respiração, que só volta quando do outro lado outra coisa que não
- Lamentamos muito.
Como imagino que um dia destes, eu na mesa quatro a atender turistas alemães e o ucraniano a chamar-me aturdido do balcão
- É para ti.

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