2 de novembro de 2006

xviii

- Vamos ver as montras.
Como no teatro do Abel, como o meu pai a fingir-se simpático e a antever o decote dos manequins primavera-verão, como a minha mãe a fingir-se contente
- Vamos
um sonho, uma alegria, a família inteira junta, um domingo sem futebol, uma tarde inteira a
- Vamos ver as montras
num centro comercial sem escadas rolantes nem ar-condicionado nem macdonalds nem casa das sandes só o snack-bar onde o meu pai no intervalo das montras
- Uma fresquinha!
E a minha mãe a medo
- uma meia de leite
e a minha irmã de olho no corneto, no epá
- um gelado de laranja
e eu só, se quero um também, eu só
- pode ser.
Quando na verdade não queria nada, só ir-me embora, como agora, de bilhete na mão
PARIS EH LINDO
E a ver as montras, os jornais, as revistas, os recuerdos de um país que já não me parece o meu
- Quanto é?

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