29 de maio de 2007

xxi

Viver assim, no prazer das despedidas e dos reencontros, partidas e chegadas com balcões pré-destinados pelas autoridades competentes e amplas salas de espera com colunas para nos encostarmos e abraçar quem fica, como o casal ali ao canto, tão novos e enamorados, a imaginar as saudades que vão sentir já daqui a bocado e entretanto a dar as mãos, a dar os braços, a dar os lábios e a dizer adeus com os olhos brilhantes.
Eu a lembrar-me do tempo em que nos abraçávamos assim e nos sentíamos a falta quando um de nós não estava, a lembrar-me como era quando achávamos que nos amávamos, quando fazíamos promessas de lugares-comuns com a consciência de que tínhamos consciência do ridículo e brincávamos com isso. Sem saber o que entretanto nos aconteceu, sem nenhum facto ou discussão que o justificasse, nem sequer a certeza de que tenha contecido alguma coisa ou se apenas o desgaste a rotina a distância a cómoda distância que interrompemos aos domingos e que às vezes nos custa

- Posso ajudar?

Eu a admirar a generosidade da empregada de balcão que me fala e sorri com um sotaque brasileiro mas a dizer que não, muito obrigado, dela só quero mesmo

- Um café e um bolo de arroz.

Sem comentários: