A terra saúda-me só porque está em festa e eu passo de carro debaixo da faixa branca e das flores de papel penduradas nos postes da EDP.
A consciência pesa-me porque não mereço a saudação e porque descubro na regularidade com que agora lá vou um novo sentido para a expressão "uma vez por festa".
Depois comovo-me. Com a altura das cerejeiras que ajudei a plantar, em filas alinhadas com um baraço e o avô ainda
- Isso não está direito
a reclamar, autoritário, não absorto no canto do lar como agora, sem nos reconhecer, à espera do lanche e a incomodar-se com a visita
- O que é que estão aqui a fazer
Comovo-me com os castanheiros, carregados de ouriços de um verde que a mão humana ainda não consegue reproduzir, castanheiros que também plantei, a lembrar-me a avó que me levava às castanhas que depois cozia, os cartuchos de figos secos que cortávamos a meias para as broas de natal, sem pensar nos avc, na cegueira, na cadeira de rodas, só na alegria com que me recebia de três em três meses e na saudade com que se despedia do carro até ele dar a curva e eu me virar finalmente para a frente.
Comovo-me com a perfeição das macieiras, mais antigas, agora podadas pela família alargada que felizmente conseguimos que se conhecesse. Comovo-me com o silêncio da terra à hora de almoço, com o check-sound para o grandioso baile com o famoso agrupamento, com o bacalhau e a chanfana da avó que não quero perder.
Depois vejo um avião a desenhar um risco branco por cima do monte que o incêndio cobriu de mato e percebo tudo.
Quase tudo.
A consciência pesa-me porque não mereço a saudação e porque descubro na regularidade com que agora lá vou um novo sentido para a expressão "uma vez por festa".
Depois comovo-me. Com a altura das cerejeiras que ajudei a plantar, em filas alinhadas com um baraço e o avô ainda
- Isso não está direito
a reclamar, autoritário, não absorto no canto do lar como agora, sem nos reconhecer, à espera do lanche e a incomodar-se com a visita
- O que é que estão aqui a fazer
Comovo-me com os castanheiros, carregados de ouriços de um verde que a mão humana ainda não consegue reproduzir, castanheiros que também plantei, a lembrar-me a avó que me levava às castanhas que depois cozia, os cartuchos de figos secos que cortávamos a meias para as broas de natal, sem pensar nos avc, na cegueira, na cadeira de rodas, só na alegria com que me recebia de três em três meses e na saudade com que se despedia do carro até ele dar a curva e eu me virar finalmente para a frente.
Comovo-me com a perfeição das macieiras, mais antigas, agora podadas pela família alargada que felizmente conseguimos que se conhecesse. Comovo-me com o silêncio da terra à hora de almoço, com o check-sound para o grandioso baile com o famoso agrupamento, com o bacalhau e a chanfana da avó que não quero perder.
Depois vejo um avião a desenhar um risco branco por cima do monte que o incêndio cobriu de mato e percebo tudo.
Quase tudo.
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