23 de junho de 2007

02.

Seis meses a darem-me conta da novidade, depois passou, e eu para aqui com o cubículo

- um luxo, hã?

e a caravela que me mata, quieta, a provocar-me todos os dias, eu cheia de vontade de ir lá arrancar-lhe as pedras uma a uma, desfazê-la aos poucos, devagar para doer mais, e depois levar as pedras para uma ponte e atirá-las aos carros, ficar a vê-los despedaçarem-se uns contra os outros, contra as guardas das auto-estrada, contra o pilar do viaduto, provocar acidentes como deu no telejornal ou então

- Tão bonita, já viu?

amarfanhá-la comigo num saco de batatas e afundarmo-nos as duas no rio, um naufrágio anónimo, não seria o primeiro, quantas não ficaram logo ali, à saída do cais, nem áfricas nem índias nem brasis, nada, logo ali as cascas de noz, e um velho a rir-se

- Eu bem te avisei.

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