20 de julho de 2006

iii

- O futebol é isto mesmo.

Uma ligeira sensação de plágio, um livro qualquer no canto da estante

- Quem é que nos deu este livro, Leonor?

E tu sem me ouvires, do outro lado da casa, eu a esquecer a pergunta e a agarrar noutro, que merda, o sotor e eu num impasse, ele pensativo, eu sarcástico, é o que me vale

- Pois é, sotor, se calhar foi isso.

Pergunto se terminámos e ele que sim, até daqui a quinze dias, a fingir que não liga às coisas materiais, mas eu a saber dos risquinhos na agenda, cada um oitenta euros, se forem dez por dia é uma fortuna.

- Faço contas com a menina, não é?
- Pois, lá fora, lá fora, a Flor é que trata dessas coisas.

Mas eu sem inveja, nem da casa do Algarve nem do duplex com terraço, muito menos do automóvel que não caberia no pátio do meu prédio. Só um desprezo esverdeado que incha nos dias de calor, já nas mãos do meu pai era assim, que orgulho senti-me ficar homem, à sua imagem.

- Então até à próxima.

É o sorriso que me aflige, o fingimento desnecessário. Pedia-me com jeitinho e eu mandava-lhe os cheques pelo correio, nem vinha cá, não estas escadas, não este elevador, não aquele café plastificado na porta ao lado, não esta sala de espera, estas cadeiras de napa, aquela gravura na parede, esta recepcionista de aparelho nos dentes

- O seu recibinho muito obrigado e as melhoras

Dispensava tudo isto, uma questão de higiene, se resolvesse aquele problema no computador até agendava transferências periódicas, era o que era e não punha cá mais os pés.

- Então boa tarde, obrigado.

1 comentário:

Anónimo disse...

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