31 de julho de 2006

vi

- Era uma bica, se faz favor.
- Sai uma bica!

O empregado sem mais coisas, a descartar-se para o colega do balcão, como que a dizer-me, sem me olhar, está a ver, eu já pedi, se demorar muito (e é capaz de demorar um bocado) a culpa não é minha, é do meu colega, eu bem estou farto de avisar o chefe para estar de olho nele, mas quê, depois ainda dizem que eu é que.
Mas eu indiferente às justificações do homem, eu com tempo para ser feito, posso esperar mais umas horas e tanto faz ser por um café como por outra coisa qualquer, eu sou bom a esperar. Indiferente também à máquina de cigarros

- Gostei muito de o servir.

A cínica, a puta, a dar-me cabo da vida, a matar-me aos pouco e a sorrir. A falar-me com voz de sorriso, aposto que diz isto a todos e agora aqui com estas coisas, num espaço público, enquanto me engole as moedas e as devolve transformadas num pacotinho avermelhado com timbre funerário. Afinal, confesso, não te consigo ficar indiferente. Não vejo a tua garganta a secar, não vejo a tua pele a ficar às escamas, o indicador e o dedo médio sem rastos amarelados, nada, imaculada e atraente com o cow-boy em tronco nú iluminado na pradaria americana.

- Wild dreams

A desejar-me, a proporcionar-me, a jurar que me pode proporcionar, a desejar que eu deseje, a proporcionar-me o desejo de

- Wild dreams

ou lá o que é, só que eu a consolar-me. Podia desligar-te, consigo ver a ficha daqui, três passos e o cow-boy apagava-se e tu nunca mais

- Gostei muito de o servir.

Só quando eu quisesse, não quando tu.

- O seu cafezinho.

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