26 de julho de 2006

isto

Quando formos grandes, querida, vamos rir-nos disto tudo, vais ver. Tu a ler os posts que te escrevia, inquieto, preso às mensagens do telemóvel, a ansiar por que tudo acabe. Tu com uma vaga lembrança

- Onde é que era, o hospital?

E eu a apontar-te o bloco de apartamentos, aqui, não aquele edifício moderno, onde também chegaste a ir

- Só mais uma consulta, rotina, sabes como é

era aqui, e tu amuavas às vezes, farta de corredores, das seringas, das papas de sopa, das papas de fruta, outras vezes rias-te, a fingir que achavas graça aos puzzles, aos bonecos para pintar do computador, tu a fingir, a fazeres-te forte

- Uma senhora, querida, portaste-te como uma senhora

E tu orgulhosa, com razões para isso, que injustiça, pensávamos, tão nova e a ter de lutar pela vida.

- Uma senhora.

Vamos rir-nos disto tudo, vais ver. Eu a envergonhar-me do dia em que suspenso do telemóvel

- BOAS NOTÍCIAS

a saberem-me ainda a pouco, a querer mais

- BOAS NOTÍCIAS

e à espera que o tempo passasse, a fingir, tal como tu, que acho graça ao computador e aos ursos imaginários que ainda havemos de pintar, tantos, tu vais ver, eu a envergonhar-me porque eu mais nada a não ser isto.