2 de agosto de 2006

vii

- O seu cafezinho.

Mais o papelinho, mas isso o empregado não disse, talvez envergonhado, talvez compadecido, talvez a achar-me com cara de quem merecia aquele café, talvez só cansado de ter que parecer simpático aos olhos dos clientes.
A vibração do telemóvel, um apito suave no bolso do casaco e eu sem mais mãos, o café, o cigarro já aceso, igual ao do cow-boy, e o telemóvel que espere até que por fim me decido, uma mensagem tua

HOJE REUNIAO ATE TRD N VOU JANT
AR N ESPERES POR MIM BJ AT AMAN
HA

O telemóvel que espere, o café a arrefecer, apago o cigarro

- Arranjava-me um copo de água, por favor? Obrigado.

E depois a escrever

- Obrigado

depois da água

AMANHA CONCERTO PARIS AVIAO 19.
30 VOU AGORA APANHAR TAXI AT DO
MINGO BJO

Portanto não ia esperar por ti, de qualquer maneira, não ia, não é? Lembras-te agora, até nos despedimos ontem quando cheguei do ensaio e tu já deitada, adormecida ao pé das cópias daquele processo que te anda a atormentar

- E se este gajo não for inocente?

Lá vou tentando acalmar-te, é o teu papel defendê-lo, acreditar nele até prova em contrário, é natural que tenhas dúvidas, é próprio do ser humano, filosofias baratas que destróis rapidamente quando me interrogas

- E se foi ele?

E eu fujo para a garrafa de vinho e insinuo-me ofendido, não sou testemunha, não sou arguido, não sou parte interessada, não sou.
E além disso esqueceste-te de que vou a Paris. E se gostasse, se ficasse por lá? Adivinho o teu remorso no compasso de espera enquanto acendo outro cigarro.
O telemóvel

Sem comentários: