28 de agosto de 2006

xiv

- Pois é, lá isso.

Ele a fingir que se acalma, consegue meter a terceira, buzinar ao autocarro, insultar um ciclista e posicionar a rainha numa fracção de segundo

- Olhe para isto, o dia inteiro aqui sem fazer nada

a apontar para uns pretos que circulam no passeio, eu a topar a jogada mas sem saber o que fazer, a torre da esquerda, uma só casa e a medo

- Hmm

Ele sem misericórdia, a topar-me inseguro

- Isto agora está cheio deles, qualquer dia

são mais do que nós, eu a antecipar-lhe a jogada mas só me ocorre fugir, desvio a rainha, felizmente o jornal no tabliê, um título que identifico

- Então ele sempre se vai embora?

Ele baralhado, a entreter com um peão, a tentar perceber

- Como diz?

Eu preso no meu bluff, como é que se chama?, a ajeitar um cavalo e com um gesto do queixo

- O treinador. Fala-se disso.

O taxista a topar-me, destes como eu ao pequeno-almoço e a comer-me a rainha com o bispo

- Áh, não sei, isso é lá com eles.

Mas eu a dar luta e a vingar com a torre a rainha morta, eu pedro, o cruel, a papar o bispo pelas costas e a arrancar-lhe o coração

- Áh bom, então somos os dois campeões.

Ele a distrair-se, ainda inebriado pela rainha tombada, um peãozito ao acaso

- Também é do glorioso?
- Pois claro

e a trazer-lhe o outro bispo com um cavalo, mesmo sabendo que depois ele com a rainha, numa luta desigual

- Então e vamos votar?

Ainda penso em fugir, a viagem de avião, não vou chegar a tempo, mas que diabo, um homem ou um rato?, e outro peão, devagar, envergonhado

- Sou só simpatizante, nunca me fiz sócio

Ele sem perdoar, vê o rei ao alcance e com a rainha, outra vez, xeque

- Ora pois isso é que faz mal. Se fôssemos todos sócios ninguém nos parava.

Eu, que remédio, a concordar, a adiar o fim, um passo para o lado

- Pois.

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