18 de agosto de 2006

xii

- Nada a fazer.

Sendo assim desisto, ajeito a correia da mala, que pesada que está, e continuo a andar. Paragens de autocarro, buracos no passeio, semáforos, sinais de trânsito, copos para moedas, colchões e cobertores de cartão, lixos vários, sarjetas abertas, uma cidade imunda à custa dos ares-condicionados que plastificam o ambiente asséptico dos prontos-a-vestir, dos prontos-a-comer, dos prontos-a-emprestar.

- Liquidação total

ou até

- Rebajas

para quando a camioneta que quase me atropelava parar, o guia a dizer-lhes

- Rossio, Rua Augusta, Praça da Figueira, Castelo de São Jorge, daqui a trinta minutos no autocarro, trinta minutos.

E afinal vão todos para a pastelaria comprar bolinhos e chocolates em caixas douradas enquanto aguardam a sua vez para ir à casa de banho.
Eu também na fila, três pessoas à minha frente que entram zangadas para o taxi que travou em cima delas, sou o próximo e entretenho-me a decidir se no banco da frente ou de trás, decisão difícil, hesito e nem dou pelo Mercedes que se aproxima, pelo senhor que já me leva as malas para o porta-bagagens e o fecha com estrondo, agora sim, pela porta de trás

- Para o aeroporto, se faz favor

Responde-me o crucifixo pendurado no retrovisor, a acenar com os solavancos da primeira, da segunda, uma aceleração brusca que termina no primeiro semáforo da avenida, um lençol de carros à nossa frente e eu a pensar isto vai demorar.

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