21 de outubro de 2006

a)

- Lá estás tu, que parvoíce!
- Estou-te a dizer.
- E como é que sabes, não me dizes?
- Sei.
- Mas sabes como?
- Sei e pronto.

Como se fosse hoje, uma conversa que não me sai da cabeça, onze anos e é como se fosse hoje, uma terça-feira à noite, tu sentada no sofá, a telenovela a chegar ao intervalo e eu a mudar para o futebol, à espera que reclamasses, que te zangasses na brincadeira, que resmungássemos os dois um bocadinho, amigáveis, conscientes da vida a dois. Mas tu nada, acho até que já nem estavas a prestar atenção à televisão, lembro-me de ter metido conversa.

- Então estes dois agora estão juntos?

E tu não me respondeste, descobri depois que já não estavas interessada naqueles dois, mesmo que as revistas anunciassem que na vida real também, beijos e abraços numa ilha do pacífico, palmeiras, espreguiçadeiras e uma piscina que podia ser nas traseiras de um hotel qualquer em Lisboa mas não, no pacífico, pelo menos dois repórteres a acompanhar o casal para uma capa e quatro páginas a cores em que nos impingiam a felicidade dos recém-namorados.
Tu já não estavas interessada neles como antes fingiste estar, tu a ver a novela só para enganar o tempo, esse que de repente percebeste que te falta, porque

- Sei, e pronto.

1 comentário:

Anónimo disse...

genial!!!